domingo, 31 de outubro de 2010

Eu sou

Não deveria haver olhos cansados,
nem sonhos inalcançáveis.
A vida deveria ser o céu,
repleto de estrelas e luz.
Um mar belo e infinito,
para trazer o que há de mais intenso em nós.
Mas não há... não há o que ele quer.
Somos apenas seres às vezes perdidos,
às vezes infinitos.
Não sou a lua nem o mar.
Quero os mares agitados,
as luas mais vivas,
eu quero ser dois sois,
sou poeira, sou imensidão, sou eterna.
Não sou o que alguém deseja,
sou o que eu quero,
só não sei se sou o todo,
mas se desejo, então sou.
somos todos o todo,
repleto de luz e paz,
somos o infinito de amor,
sou o que sou.
Sou.. eu sou!

Lígia G. V.
Luz e paz! (:

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


Não é para não esquecê-lo, muito menos para não esquecer o mundo. Olho o céu para não me esquecer. Para não acabar, para não transbordar. Faço apenas porque gosto de olhar as cores que o sol pinta no céu quando a noite começa a surgir.

Lígia G. V.
Luz e Paz!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"É porque às vezes caio no esquecimento. Perco-me inteira, depois percebo que sempre estive ali. E o que mais dói depois de tudo isso, é lembrar que rejeitei aquilo que sempre quis."

Lígia G. V.
Trecho do conto: Uma folha pintada de ouro
Luz e paz!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ausência

Eu não posso simplesmente fechar os olhos e fingir que nada acontece. Porque tudo continuaria ali. Mas tanto faz. De um jeito ou de outro tudo vai, tudo volta. Tudo muda, ou não! A verdade é que muitas coisas já perderam a importância. Às vezes tenho a impressão que eu simplesmente caminho, sem ter certeza para onde vou. E como uma folha solta, deixo que o vento me leve para onde ele queira!

Lígia G. V.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O poder da modificação

           -É assim que se monta esta parte, não é, mamãe?! De peça em peça a gente constrói essa casa!
           -Marisa! Não tire essa peça daí, você vai desmontar a base!- dizia sua mãe.
           -Não vou desmontá-la, só vou melhorá-la! Não gosto da cor preta! A base não a quer!
           -A base não escolhe, querida. Quem escolhe é quem a faz!
           -Então, como eu estou montando, eu posso escolher! Vamos tirar o preto da base!
           Por mais que parecesse birra, não era! Marisa era inteligente e persistente. Generosa e bondosa. Gostava das coisas belas e puras. Seus olhos não chamavam atenção pela sua coloração, mas sim pela sua grandeza!
          -Está bem! Tire a peça preta. Mas saiba que teremos que construir tudo de novo!
          -Tudo bem! Eu não queria que a casa ficasse pronta com a cor preta. Isso poderia modificar o futuro dela!
          Sim! Ela era assim mesmo. Gostava da luz, dos pássaros, das flores... Amava ajudar ao próximo! E era tão pequenina, que quem a via, se espantava com tamanho amor!
          -Qual cor você quer então?
          -Eu quero a cor branca! Quero que ela tenha a luz, que ela cresça pura!
          De peça em peça construíram a base. Agora com a branca, a futura casa parecia mais leve!
          -Falta pouco tempo para terminarmos, filha!
          E assim foram construindo. Por algum motivo além da alegria, Marisa sorria constantemente.
         -Agora as últimas peças, mãe!
         E construíram a última fileira todinha de branco!
         -Ah, como ficou linda, mamãe! Gosto dessa casa! Não há nenhum indício de maldade ou escuridão, só há luz, paz e pureza! Construímos direitinho! Obrigada pela ajuda, mamãe! A casa agradece!
         Sua mãe pensou em dizer que a casa não tinha como agradecer, mas permaneceu calada. Afinal, tinham de fato, dado uma bela essência para aquele objeto, que aos olhos de um adulto, jamais apresentaria sinal de vida!

Lígia G. V.
Luz e paz!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Olhos mortos

           Olhares tristes e parados. Mãos aflitas e respirações angustiadas. Um olhar no céu, outro na Terra. O homem estirado no chão nada mais dizia e as mãos quentes tornavam-se geladas. Palavras eram sussurradas em seus ouvidos, mas nada era escutado.
           Uma moça sentada no chão espalhava suas lágrimas cristalinas na estrada. Suas mãos eram constantemente levadas ao rosto e ela se encolhia feito uma criança. Procurava pelos olhos do amado, e a escuridão a fechava. Focos de luz ao corpo que agora era feito uma estátua. Seus lábios de rosa começavam a se perder no rosto machucado.
           Palavras... talvez palavras. Era o que a moça desejava dizer e ouvir... apenas ver sorrisos e ouvir risos. Talvez olhar os olhos pela  última vez, como uma despedida... tanto faz... queria sentir o único abraço confortante. Desejava-o vivo! E tentava trazê-lo de volta, mas nada acontecia. Aqueles olhos haviam se fechado, e desta vez, não para um sonho.
          Seu carro estraçalhado no meio do caminho. Fotos estavam espalhadas pela grama. Nenhuma criança. Uma mente a rezar, outra a chorar.
          A moça continuava tentando abrir aqueles olhos roxos. Parecia dizer "vamos, abra os olhos!". Mas ela não os veria de novo, não do modo que esperava. Ela desejava nunca esquecê-lo, porém nunca era muito tempo. Suas dores seriam empurradas para debaixo do tapete, se assim desejasse.
          Uma voz calma e suave disse "venha minha querida, precisa deixá-lo agora". E alguns surgiram para ajudá-la a se levantar. Andava aos tropeços e deixava no ar sua esperança esmigalhada.
          Uma lona preta o cobriu e agora era definitivo. Como em um ato de agradecimento, a moça se curvava e o deixava. Seus olhos estavam vermelhos e sua expressão era vazia. Não entendia porque vê-lo partir era, momentaneamente, tão doloroso.
           Seu corpo fora cremado e suas cinzas jogadas ao vento. Talvez virassem pó de estrela ou quem sabe não. Sua luz seria sempre infinita e sua fragrância sempre viva. Estaria em cada brilho e sua melodia seria eternamente bela, se assim desejasse.

Lígia G. V.

domingo, 17 de outubro de 2010

Antes do amanhecer... continuação

Eu estava em casa quando meu pai morreu. Sua morte fora, de certa forma, a mais bela que já vi. Não gosto da morte, se é o que pensa. Eu apenas não a menosprezo. Ela me pareceu, desde pequena, uma forma de se libertar. Eu costumava dizer que a borboleta finalmente saiu do casulo. Quando seu Onofre, um amigo de meu pai, morreu, eu disse calma e levemente: pensei que ele nunca iria. Não me olhe assim, mamãe, as asas dele estavam grandes e prontas para o voo. Nesse dia minha mãe ficou brava, disse-me que tinha que segurar as palavras. Entristeci-me, mas logo passou.


Digamos que a morte de Onofre foi um tanto dolorida. Fumava muito e tinha câncer de pulmão. Disse a ele muitas vezes para que ele parasse com aquilo, mas ele não me dava ouvidos, dizia que eu era jovem demais para entender as vontades dos adultos. Tanto faz. Ah, mas a morte do meu pai, essa foi bela de ser vista. Porque pareceu tão natural e calma. As estrelas, de todas as cores, estavam ao seu lado. Ele voaria longe e com certeza iria para um belo lugar. Eu fiquei triste, preciso admitir isso. Mas o que posso fazer? Não vou barrar um ciclo natural e nem juntando todas as forças conseguiria que meu pai continuasse vivo.

Eu aprendi com o tempo, a respeitar e aceitar os acontecimentos. Agradeço muito por isso, porque caso contrário, sofreria desde a infância até os dias atuais. Nunca fugi da minha loucura. Nasci louca, se posso assim dizer. Não tenho problemas mentais, mas tenho uma imaginação que vai muito além do universo. Não sei se a palavra imaginação é a melhor para descrever o que tenho, mas essa foi a que me veio a mente. Imagino, crio, realizo. As coisas não são bem como parecem ser. E nesse espaço vazio entre nós há muito mais do que uma mente normal possa imaginar.

 
Obs: esse trecho é a continuação do conto que eu postei abaixo. Espero que gostem. (:
Mais tarde tem a continuação.
Luz e paz!

Para Laura

            Laura, querida. Desculpe-me por tê-la deixado. Irei vê-la em breve. Diga para Anita fazer aquele bolo que gosto, se não for incomodo, é claro.
            Acredito que tenha sofrido muito depois que seu pai partiu, mas não se esqueça de que as rosas mais mortas também são as mais vivas. Quando estiver aí poderemos conversar melhor.
            Quanto ao tempo, minha querida, quem o explica? É feito de engrenagens que alguém inventou. Não conhecemos o tempo, nunca conhecemos. Pelo menos não o verdadeiro tempo. Mas não se preocupe com isso, como você mesma disse : isso é coisa de louco!
            Abraços fraternos.

                                                                                                    Rodrigo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Antes do amanhecer.

Para Rodrigo.

Eu rotulo o tempo e ele me caça. Não sei o porquê disso. Mamãe dizia que quando eu era pequena eu sempre andava com um relógio no bolso. Sempre que os ponteiros marcavam 17h eu ia lá e mudava. Eles marcavam então o começo do dia. Não precisa entender, Rodrigo, isso é coisa de louco. Talvez eu tivesse que fazer isso até hoje, assim o tempo seria sempre eterno. Mas o tempo é eterno, não é? Já é tempo de primavera e ainda nem veio me visitar. As flores murcharão e você perderá a beleza contida nos dias. Por favor, não se esqueça de trazer toda a sua alegria para dividir conosco. A tristeza ainda ronda esse lugar desde que papai morreu. Esperarei você com todo carinho. Até breve.

                                                                                                     Laura Ambrósio.

Uma breve explicação:
Essa carta faz parte de uma história que estou escrevendo.
Abraços. :)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ainda somos feitos de vidro.


                 O vento bate, permanecemos intactos. O sol nos ilumina, crescemos um pouco. As estrelas nos abraçam e nos tornamos infinitos. Mas de repente alguém vem e detrói nosso império, nosso maior luxo, construído aos poucos. E pensamos que não somos mais de vidro. Mas ainda somos. Porque nos despedaçamos, nos deixamos quebrar e nos transformamos em cacos pontiagudos. Espetamos o outro e o quebramos também. Quando na verdade poderíamos simplesmente aceitar e ouvir o que o outro tem a dizer. Porque afinal todos temos direito a aconselhar e a errar. Mas não. Preferimos quebrar e despedaçar o outro. E ainda esperar que alguém nos venha abraçar e dizer que nós é que estamos certos. É.. ainda somos de vidro!

Lígia G. V.

Um passo leva a outro

Insisto, insisto! Persisto. Sou assim tão tolo quanto dizem? Tolo! É, talvez eu seja. Porém, ainda mais tolo é aquele que me taxa como tolo. Só sou isso porque corro atrás do que desejo. Então quem me rotula é triste por não persistir. É que eu, eu persisto até o último sopro da vida. E continuo quando ela começa a pingar sobre o tapete da sala. Não sou tolo porque alguém disse que sou. Se sou tolo, sou porque quero. Mas não quero, então não sou. Os meus sonhos são o mais importante. Eles dão forma e cor ao meu ser. É como disse um sábio poeta: tenho em mim todos os sonhos do mundo. E não me importa o quão longe do meu alcance eles pareçam estar. Eu persisto porque sei que consigo e por conseguir é que insisto em realizar todos os outros sonhos do mundo!

Lígia G. V.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Entrelinhas...




Não é que eu não gosto, muito menos que eu desprezo. É que demonstrar um sentimento não é tão simples como muitos dizem. É preciso, antes de tudo, sentir. Se não há o ato de sentir, não há o ato de mostrar. Eu não quero decepcionar, não quero dizer "eu gosto", sem realmente gostar. Talvez por isso eu fique em silêncio. Enfim, é justo dizer que se ama alguém, quando na verdade o que se sente por ela é bem menos do que amor? O problema é quando eu já cheguei no ápice do sentimento e ainda não disse nada. A onda passa e eu fico. E é triste ver que a pessoa nem olhou nos meus olhos, já que tudo que eu sentia estava lá. É tão fácil ver quando me simpatizo com alguém, sorrio com a boca, com os olhos, com o corpo. É tão difícil enxergar de outra forma? Por que terei sempre que dizer palavras para a pessoa entender? O que eu sinto e o que eu sou, está muito além do que as palavras dizem!

Lígia G.V.

O que sou? O que és?

"Posso ser o que eu quero, não é?" "Posso ser o infinito!", minha mente era uma tempestade. "Posso voar e alcançar as estrelas!". Mas não, eu não podia. Mas talvez se eu desejasse muito, eu conseguisse. "Continue desejando, apenas continue".
Quem dera fosse simples assim. As pessoas ao redor me achavam louca. Dane-se. A loucura nunca me levou a perfeição. E a perfeição é o oposto de tudo aquilo que sempre busquei. Sempre desejei uma vida diferente, uma vida desencanada. O perfeito me causa repulsa.
E ali, com a cabeça no travesseiro, traçava planos sem datas para se concretizarem. Talvez fizesse isso porque antes, quando eu determinava datas, eles nunca se realizavam. Agora eu apenas imaginava...
Eu não sei porque, mas apareceram na minha frente, dois olhos grandes e belos. Com cor de caramelo. Eram simbólicos... atraiam-me.
- De quem são esses olhos?- indaguei
- Seus.- respondeu-me uma voz.
- Não podem ser meus! São tão... tão...
- Desafiadores. Sim.- disse outra vez a voz- Mas são belos. Olhe lá, quantos sonhos existem neles. Paisagens refletidas de ares nunca vistos. Interessante. Eles não suplicam, não invejam, não maltratam. Apenas buscam. Buscar é bom de vez em quando.
Procurei pelo dono da voz, mas não encontrei ninguém.
- Não me encontrará! Estou aqui apenas para mostrar a você, que você estava certa. Você pode ser o que você quiser!
- Quem é você? - perguntei
Nada aconteceu. Não sei como fui parar ali, estava deitada em uma banheira e a água do chuveiro caia sobre o meu cabelo quando acordei. E num ato repentino, quando eu não pensava mais na voz que me dissera tantas coisas, tive a resposta: "sou o que os seus olhos desejarem."
                                                                                                                               
Lígia G. V.

sábado, 9 de outubro de 2010

"Não posso dizer o que você quer ouvir. Às vezes nem digo o que eu quero. Não posso dar o que você espera de mim. Porque o que você quer ainda está para se formar ou se está formado ainda se esconde como uma criança quando sente medo."

Trecho do meu conto: Meus olhos não são os seus.

Escolhas


Olhos repletos de lágrimas


escondem-se atrás das páginas


de um livro em branco.


Traçar uma história não é fácil, mas nem difícil quanto parece.
A vida às vezes transborda pelos dedos e enche copos com diferentes essências. É preciso muito equilíbrio e certeza para escolher qual se deseja.

Lígia G. V.


Luz e paz!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aceitar!

Vozes, vozes. Tantas vozes sem sentido, com sentido... sonhadores, lutadores; invejosos, maldosos... por que uma mente é taxada como normal ou insana? Por que não deixá-la simplesmente como é? Por que? Por que não posso ter a intensidade do vento ou a cor do céu? Não posso gostar de voar? Quero cor, quero vida e intensidade. Calmaria, liberdade, pacificidade. Amor e bondade. Deixe-me ser como eu sou!

Lígia G. V.
Luz e paz!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010


Eu posso mostrar para alguém que nunca sonhou, como é bom voar. Assim como posso deixá-lo nas cinzas. Se tenho as duas oportunidades, por que não mostrar o mais belo?


 Luz e paz!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Procurar e achar



Meus olhos encontraram os seus e eu percebi que jamais perdemos o que tínhamos. Porque talvez a nossa essência nunca desapareça. Os meus sonhos sempre continuarão sendo os meus sonhos e sempre terão o meu jeito, isso acontece com você também. Nós sempre existiremos, e teremos a intensidade e a beleza que quisermos. É bom saber que não me perdi no meio de tanto caos!

Luz e paz!

sábado, 2 de outubro de 2010

"Seus pés deslizavam pela calçada bruta. As buzinas ao redor me enlouquecem. Não há nada a fazer. Seus olhos suplicam ao céu desejos impossíveis aos olhos dos rotineiros. Seu olhar volta ao chão. Assisto tudo a uma certa distância. Não sinto medo. Você sente? Suas vestes imundas me levam a acreditar que ele nada tem, mas tudo tem. Acena para a moça do carro, mas ela nada faz. Os vidros escuros a impossibilitam de vê-lo. O homem angustia, se desespera. Olha para o céu novamente. Suas mãos se apertam, e eu me dirijo a ele.
-Olá. O senhor está bem?
-O que faz aqui? O que faço aqui?
Pareceu-me perturbado. Seus olhos me fitam incompreendidos.
-Porque ainda não correu? Porque está falando comigo? Todos me ignoraram quando eu chamei. Clamei, gritei, pedi, e nada fizeram!
-Não vou correr! Correr para quê? Correr para onde? O senhor parece perdido.
-A senhorita também"


Trecho do meu conto: O som de uma voz

Luz e paz!

Eu poderia fechar os olhos e simplesmente esquecê-lo. Mas talvez eu não quisesse fazer isso. Talvez eu quisesse levá-lo para sempre comigo, como se leva uma rosa dentro de um livro.
Lígia G. V.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Silêncio...


Eu poderia olhar nos seus olhos e dizer algo. Deveria ir atrás e mostrar o novo. Mas isso perdeu o sentido, e tudo se desfez. Permaneço quieta e inquieta, enquanto os ponteiros do relógio destroem a eternidade, como se isso realmente marcasse algo. Desfaço-me, te desfaço. Está tão distante... Não posso dar asas para aquele que não quer voar. Continue com os pés no chão e viva sua vida sem imaginação. Já que meus planos são utópicos... não posso fazer nada por você, mesmo que eu queira... Apenas permaneço em silêncio...

Lígia G. V.

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
-não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles