sexta-feira, 31 de julho de 2009

Criei essa história faz algumas semanas. Gosto dela, então decidi colocá-la aqui!

Estrela

Sentada num lugar qualquer de uma rua qualquer, numa noite fria e infinita, entre milhões e milhões de estrelas, avistei uma estrela cadente. Faça um pedido! Mas eu tinha tantos pedidos, que apenas uma não daria conta de satisfazer todos. Escolha um. Qual era afinal, o meu pedido mais importante? Poderia pedir uma chuva de estrelas cadentes, isso seria bom, porque assim, eu conseguiria realizar todos.
Mas era tarde demais. Meus olhos, agora, fitavam apenas as inúmeras estrelas brilhantes no céu. Nenhum vestígio. Nenhum desejo. Estava tão triste. Frustrante. Acabei sem nenhum desejo realizado. Por medo de escolher o mais simples e sem graça. Tão sem graça querer nadar em um mar de rosas brancas.
Mas quais eram os outros? Um pai? Um sapato? Um cobertor? Talvez uma casa. Sim, uma casa com cama e muitos cobertores. Seria tão agradável dormir no quente. Talvez comida. Há tanto tempo não comia... O cheiro das casas ao redor me enlouquecia. Arroz, batatas cozidas, frango e tomates bem verdes.
Eu tinha perdido a chance. Não havia casa, cobertor, cama e muito menos comida.
O que me cercava eram apenas as paredes de uma rua sem saída.
Levante-se daí! Vá procurar algo! Não! Não! Meus pensamentos às vezes me irritavam. O que eu encontraria se saísse dali?! Talvez olhares maldosos. Pobres humanos. Nem sabem o que fazem. Pobre planeta, que sofre com a ignorância dos homens! Talvez eu encontrasse cachorros magros e abandonados. Não queria ver tudo isso novamente.
Um senhor andava na minha direção. Provavelmente entraria numa casa. Carregava sacolas com comida e roupas. Por um momento desejei que aquilo fosse meu. Levante-se! Vamos, vá falar com ele! Mas antes que eu pudesse me levantar, ele estava ali, parado na minha frente, sorrindo. Olhos azuis. Cabelos grisalhos. Alto e magro. Colocou cuidadosamente as sacolas no chão e num ato rápido esticou o braço e estendeu a mão para mim.
Segure-a! Vá logo! Ele não vai esperar! Num ato de impulso, segurei sua mão tão forte que podia ver a sua expressão de dor. Mas ao levantar minha cabeça, vi que agora o sorriso era infinito, como uma porta para a eternidade.
Levantei-me. O vento balançava os meus cabelos. O senhor segurava a minha mão enquanto saíamos da rua angustiante. Quis olhar pela última vez o local, e ao me virar, percebi que eu ainda estava lá. No mesmo chão, o mesmo papelão, as mesmas lágrimas. Agora estava deitada e de olhos fechados. Estava morta. Tanto frio... eu morri de frio? Fome? Talvez falta de esperança. Ou aqueles tomates gordos e verdes, que eu sempre desejei comer, tivessem me enlouquecido. Morta.
Meus olhos, fechados, agora se abriam para o infinito. Talvez o desejo mais sem graça, não fosse realmente se graça. Era o melhor e o mais importante de todos.
Finalmente eu nadava em um mar de rosas brancas. E sem medo, eu caminhava para um novo lugar, bem longe de lá!

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