quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para sempre Lihana

Depois de ver tudo acabar
e de tanto correr.
Depois de viver
e de tanto sonhar...
Depois de lutar
e de tanto chorar...
Eu a vi cair,
como jamais havia visto.
Depois de tanto amar 
e de tanto sorrir,
eu a vi dormir para sempre.
O nosso mundo mergulhou em escuridão,
e nós perdemos a sua luz
e o seu doce olhar.
A sua magia e sua paz.
Depois de morrer,
e de tanto caminhar,
depois de tanto tempo
e de tanto procurar, 
eu a vi voltar.
Com o mesmo doce olhar,
e a mesma alegre voz.
O mesmo amor
e a mesma magia.
Depois de todo o vazio
e todo o frio,
eu a vi trazer o calor 
a este mundo novamente.
Depois de tanta angustia
e de toda a espera
eu finalmente a vi renascer!

Lígia Gosciola Vizeu

terça-feira, 8 de maio de 2012

A menina que pintava folhas - Parte 1


                                                                               Ilustração de Josephine Wall
                
               Aos poucos as folhas secas e avermelhadas caiam das árvores dando leveza ao parque. A leveza que poucos conseguiam ver. A leveza e a pureza da efemeridade. A natureza era frágil e bela; a vida tornava-se aos poucos marginalizada. O essencial se perdia nos altos muros luxuosos das casas ao redor.
                O universo encarregava-se de muitas coisas. Coisas poderosas. Ele trazia a simplicidade banhada em riqueza. A riqueza banhada em poeira cósmica. Buscava seres belos para cumprirem jornadas, às vezes interrompidas por destinos quebrados. Nem sempre seus resultados eram belos. Afinal, nem tudo é só beleza. A vida trazia a tristeza em muitos momentos. E esta era completamente mostrada nos corpos dos seres humanos. Eles falavam com seus gestos, com os olhos, com os pensamentos perdidos nas armadilhas do ego e da mente.  A vida era perigosa se você não soubesse onde estavam os buracos. A luz ajudaria qualquer um que estivesse em perigo, bastava acreditar. Mas essa era uma tarefa muito difícil para alguns.
                Ouvia-se, havia muito tempo, que os olhos eram as janelas da alma. E não havia algo mais belo, na realidade humana, do que um puro e sincero olhar. Gostava-se do que se destacava, apesar de muitos dizerem odiar. Era ruim admitir isso, uma vez que poderosos incentivavam a discriminação para aqueles que apoiassem o diferente.
                Em uma pequena cidade, tomada pela alegria e magia, contavam-se muitas lendas. Desde simples ratos pequenos comedores de gente, até grandes magos e reis. A maioria não acreditava no que ouvia, mas os olhos das crianças brilhavam ao ouvir histórias sobre fadas, princesas, elfos e duendes. A magia estava no coração de cada anjo que ali morava, e era por isso que a beleza ainda sobrevivia.
             Uma bela noite, quando a lua estava cheia, uma linda garotinha pediu para que sua mãe lhe contasse uma lenda. A mãe a colocou na cama e a cobriu. A menina esperava ansiosamente. Sua mãe sorrindo pegou um embrulho que estava embaixo do abajur e o entregou para a filha. Ela, entusiasmada, abriu o presente rapidamente.  A pequenina foi tomada por uma alegria tremenda e seus olhos aguaram ao ler a capa “A menina que pintava folhas”. A mãe abriu o livro e começou a ler.
                “Em uma linda noite, quando as estrelas brilhavam intensamente e as fadas bailavam no ar, uma linda garotinha nasceu. Era bela e pequenina. Alguns diziam que ela tinha uma mancha no pé que se parecia muito com uma folha de outono. A imaginação era capaz de criar muitas coisas. Sua mãe não via nada no pé pequeno da filha, e muita gente dizia que aquilo era apenas um boato.
                Alguns sentiam medo da menininha, porque ela sorria grande parte do tempo e seu olhar era puro e simbólico. As crianças, ao contrário de muitos adultos, a adoravam. Diziam que ela parecia muito com uma bonequinha.
                - Como ela se chama? – perguntou uma criança.
                - Ágata – respondeu a mãe.
                A criança saiu correndo e se juntou a um grupo de meninas. Ouviam-se apenas sussurros, mas era notável que elas falavam sobre o nome da mais jovem criança da vila.Algo que elas faziam sempre que   uma nova pessoa nascia. Elas pareciam felizes e contentes. Logo a mesma criança correu em direção a mãe de Ágata.
                - Ágata é um belo nome. Nós gostamos muito dela. – disse a menina rindo com os olhos.
                - Obrigada, doce Esmeralda – respondeu.
                A noite caiu e Ágata dormia tranquilamente. As folhas de outono continuavam a cair do lado de fora. Sua mãe se agitava na cama, mas continuava a dormir. A janela se abriu devagar, e por ela entraram muitas fadas, lindas e cheias de brilho, carregando uma corrente. 
                Ao chegar ao bercinho, as fadas colocaram no pescoço da pequenina uma linda corrente de ouro, com um pequeno pingente de uma folha de outono. Atrás estava grafado “Ágata”. Neste momento o corpo da menina brilhou. Seu destino estava traçado.
                A mãe percebeu que algo acontecia no local e se mexeu, as fadas com pressa, voaram para fora, e mandaram no ar um beijo para a menina. A mãe levantou assustada, mas logo percebeu que estava tudo bem. Porém notou que havia uma corrente no pescoço da filha. Ela sabia o que era aquilo. Naquele lugar, todos que acreditavam na vida banhada em magia ganhavam um colar quando eram jovens. Ela mesma tinha um. A questão é que Ágata era muito pequena para saber o que era a magia. Algo muito grande acontecia ali e a história da menina que nascera ficaria marcada para sempre”.

                Lígia Gosciola Vizeu
                Luz e paz!