sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quando você enlouquece...




Eu ouvi você dizer que seus sonhos estavam todos espelhados pelo chão.
Ouvi você chorar, enquanto corria  para outra direção.
Vi seus olhos procurarem no céu uma razão para o que acontecia.
Quando você gritava e dizia que tudo estava errado, eu apenas sorria. 
Eu disse que seu coração era forte para enfrentar a tempestade.
Mas você preferiu se esconder enquanto o vento tocava o meu rosto. 
Eu tentei te achar, mas você insistia em fugir.
E quando eu já estava tão próxima você corria para os meus braços.
Quando as flores abriam eu via você sorrir,
e então seus olhos diziam que tudo estava bem.
O verão se foi mais uma vez,
levando toda a sua sanidade.
Eu ouvi você cantar a sua melhor canção,
enquanto tudo acabava e o inverno chegava.
Você costumava dançar com os pés no chão,
enquanto minhas asas me levavam ao céu.
A vida parecia tão bela quando você recitava poemas.
O seu mundo interior desmoronava,
suas palavras não tinham som,
 e sua letra não tinha forma...
Você mergulhou na loucura,
enquanto eu lia tudo o que você era.
Eu ouvi dizer que poetas perdiam a inspiração
e se perdiam em um lugar qualquer.
Mas da sua loucura formaram-se as palavras,
e aos poucos os seus sonhos estavam todos pregados na parede.
Eu vi as lágrimas caírem dos seus olhos.
Você me disse que tudo estava bem,
mas ainda chovia muito lá fora.
Eu vi o tempo correr
e o sol nascer.
Eu caminhei ao seu lado, feliz.
Eu te mostrei o mundo
e você me deu o universo.
E quando as flores se abriram você sorriu mais uma vez,
e tudo voltou a ser como era....
Doce e azedo,
infinito e mortal...


Lígia G. V.

quarta-feira, 20 de junho de 2012


Enquanto fugia ela ouvia os cavalos correrem a sua procura. Seus pés descalços pisavam nas folhas secas e geladas. As lágrimas rolavam pelo seu rosto entristecido e amedrontado. As imagens jamais sairiam de sua mente, era o que ela acreditava. Tudo o que ela mais amava havia sido tirado de sua vida. Jamais havia sentido tanto medo. Tinha medo de morrer como todos os outros, mas também de viver em um mundo solitário. Havia lutado tanto para que aquilo não acontecesse que agora tinha a impressão de que nada havia valido a pena.  E quando, já muito cansada, caíra no chão, ela vira pela última vez aqueles lindos olhos cinzas a fitarem.

Lígia G. V.
Luz e paz!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sophia e o reino de Luzio


            - Caminhe, menina. Caminhe o quanto puder. - dizia a imagem que se projetou diante dos olhos entusiasmados de Sophia. - Se você continuar aqui o frio congelará seu corpo.
            Sophia olhou para o homem que segurava uma espécie de varinha e tinha os cabelos cor de fogo espetados. Numa doce alegria a menina riu. Jamais congelaria.
            - Está enganado, meu amigo. Eu poderia passar a noite nesta estrada e continuaria quente como uma brasa. Caminho junto a felicidade, e uma companhia como esta não pode trazer a morte, não é?! - ela olhou para os olhos arregalados do moço.
            - Você é quem está enganada... - já começava a dizer quando percebeu algo em Sophia. - No seu caso não. Mas apenas porque você carrega também a magia, assim como eu. - ele sorriu.
            - Então venha comigo, senhor..? - perguntou Sophia.
            - Luzio. Luzio é o meu nome.
            - Venha comigo Luzio. A noite hoje está mágica. E dizem as estrelas que há muito para vermos.
          Sophia e Luzio caminharam pelo longa estrada. Seus passos ficavam marcados na neve fofa e branca, mas aos poucos se perdiam, mostrando que a vida também era feita de efemeridade. Sophia desejava viver altas aventuras, a pequena menina de apenas 10 anos era sapeca e muito inteligente. Havia saído de casa uma semana antes do Natal e pelas suas vestes era possível ver que ela tinha uma vida muito boa. Porém, por algum motivo ela desejava algo mais do que tudo o que já tinha. 
            - O que uma menina tão jovem faz sozinha no meio desta estrada? - perguntou Luzio.
          - Sou muito feliz - começou ela - e grata por tudo o que tenho. Mas eu queria provar que as histórias que minha mãe lê para mim são reais. Um dia ouvi dizer que o coelho de Alice no País das Maravilhas corre apressado por este mundo. - ela sorriu entusiasmada. - E se ele existe, então Alice também há de existir. Assim como todos os outros personagens dos contos de fadas. - Sophia olhou misteriosa para Luzio - Há algo em você que me lembra o Chapeleiro Maluco.
           - Eu não sou o Chapeleiro Maluco, minha cara. Sou Luzio. E você certamente não é Alice.
          - É claro que não! Eu sou Sophia! Mas você não acha que eu tenho razão, Luzio?
            - Acredito que sim. Se é que alguém viu mesmo o tal do coelho. - ele revirou os olhos.
           Ainda andando Sophia se lembrou que jamais deveria falar com estranhos.
          - O que você faz aqui? Por que está aqui? Para onde está me levando? - perguntou a menina esperta.
           - Ora, não seja louca. Eu vivo por aqui. Sou um ser mágico, faço parte deste mundo. 
          - Que mundo?
          - Este. - apontou Luzio.
           Na frente dos dois havia uma linda aldeia cheia de pequenas luzes amareladas. Lindas casinhas de tijolos onde pessoas alegres dançavam. Sophia sorriu. 
          - Você mora aqui? - perguntou.
          - Sim. Venha comigo.
          Eles andaram até o centro da aldeia, onde a claridade era pouca. 
           - Olhe para o céu, Sophia. - disse Luzio.
           Sophia obedeceu. Ao olhar para o céu ela viu pequenas partículas brilhantes caindo. Apenas ali não nevava.
           - É o brilho das estrelas. Ele cai sobre nós esta época do ano. Não é lindo?
           - É mágico. - Sophia riu.
           As pessoas riam e cantavam, enquanto crianças brincavam com o pó das estrelas. O frio ali parecia ter ido embora.
           - Você pode ficar aqui esta noite se preferir. Minha casa é logo ao lado e há muitas crianças da sua idade.
           - Eu adoraria ficar. - Ela sorriu entusiasmada.
           Sophia não sabia, mas ela jamais voltaria para casa. Não porque não desejasse, mas porque aquele era o seu mundo e a sua história. O que ela ainda não havia percebido é que ela era uma personagem dos contos de fadas assim como Branca de Neve e Cinderella e tudo ali era mágico. Sua história contava muito mais do que a noite em que chegara ali e mais tarde ela seria conhecida como Sophia, de Sophia e o reino de Luzio. E quem sabe, algum dia, alguém a visse andando pela linda estrada de neve assim como tinham visto o coelho de Alice.

             Lígia G. V.
             Luz e paz!