Ilustração de Josephine Wall
Aos poucos as folhas secas e avermelhadas caiam das árvores dando
leveza ao parque. A leveza que poucos conseguiam ver. A leveza e a pureza da
efemeridade. A natureza era frágil e bela; a vida tornava-se aos poucos
marginalizada. O essencial se perdia nos altos muros luxuosos das casas ao redor.
O universo
encarregava-se de muitas coisas. Coisas poderosas. Ele trazia a simplicidade
banhada em riqueza. A riqueza banhada em poeira cósmica. Buscava seres belos
para cumprirem jornadas, às vezes interrompidas por destinos quebrados. Nem sempre
seus resultados eram belos. Afinal, nem tudo é só beleza. A vida trazia a
tristeza em muitos momentos. E esta era completamente mostrada nos corpos dos
seres humanos. Eles falavam com seus gestos, com os olhos, com os pensamentos
perdidos nas armadilhas do ego e da mente.
A vida era perigosa se você não soubesse onde estavam os buracos. A luz
ajudaria qualquer um que estivesse em perigo, bastava acreditar. Mas essa era
uma tarefa muito difícil para alguns.
Ouvia-se, havia
muito tempo, que os olhos eram as janelas da alma. E não havia algo mais belo,
na realidade humana, do que um puro e sincero olhar. Gostava-se do que se
destacava, apesar de muitos dizerem odiar. Era ruim admitir isso, uma vez que
poderosos incentivavam a discriminação para aqueles que apoiassem o diferente.
Em uma pequena
cidade, tomada pela alegria e magia, contavam-se muitas lendas. Desde simples
ratos pequenos comedores de gente, até grandes magos e reis. A maioria não
acreditava no que ouvia, mas os olhos das crianças brilhavam ao ouvir histórias
sobre fadas, princesas, elfos e duendes. A magia estava no coração de cada anjo
que ali morava, e era por isso que a beleza ainda sobrevivia.
Uma bela noite, quando
a lua estava cheia, uma linda garotinha pediu para que sua mãe lhe contasse uma
lenda. A mãe a colocou na cama e a cobriu. A menina esperava ansiosamente. Sua mãe sorrindo pegou um embrulho que estava embaixo do abajur e o entregou para a filha. Ela,
entusiasmada, abriu o presente rapidamente.
A pequenina foi tomada por uma alegria tremenda e seus olhos aguaram ao
ler a capa “A menina que pintava folhas”. A mãe abriu o livro e começou a ler.
“Em uma linda noite,
quando as estrelas brilhavam intensamente e as fadas bailavam no ar, uma linda
garotinha nasceu. Era bela e pequenina. Alguns diziam que ela tinha uma mancha
no pé que se parecia muito com uma folha de outono. A imaginação era capaz de
criar muitas coisas. Sua mãe não via nada no pé pequeno da filha, e muita gente
dizia que aquilo era apenas um boato.
Alguns sentiam
medo da menininha, porque ela sorria grande parte do tempo e seu olhar era puro
e simbólico. As crianças, ao contrário de muitos adultos, a adoravam. Diziam
que ela parecia muito com uma bonequinha.
- Como ela se
chama? – perguntou uma criança.
- Ágata –
respondeu a mãe.
A criança saiu
correndo e se juntou a um grupo de meninas. Ouviam-se apenas sussurros, mas era
notável que elas falavam sobre o nome da mais jovem criança da vila.Algo que elas faziam sempre que uma nova pessoa nascia. Elas
pareciam felizes e contentes. Logo a mesma criança correu em direção a mãe de
Ágata.
- Ágata é um belo
nome. Nós gostamos muito dela. – disse a menina rindo com os olhos.
- Obrigada, doce
Esmeralda – respondeu.
A noite caiu e
Ágata dormia tranquilamente. As folhas de outono continuavam a cair do lado de
fora. Sua mãe se agitava na cama, mas continuava a dormir. A janela se abriu
devagar, e por ela entraram muitas fadas, lindas e cheias de brilho, carregando uma corrente.
Ao chegar ao bercinho,
as fadas colocaram no pescoço da pequenina uma linda corrente de ouro, com um
pequeno pingente de uma folha de outono. Atrás estava grafado “Ágata”. Neste
momento o corpo da menina brilhou. Seu destino estava traçado.
A mãe percebeu
que algo acontecia no local e se mexeu, as fadas com pressa, voaram para fora,
e mandaram no ar um beijo para a menina. A mãe levantou assustada, mas logo
percebeu que estava tudo bem. Porém notou que havia uma corrente no pescoço da
filha. Ela sabia o que era aquilo. Naquele lugar, todos que acreditavam na vida
banhada em magia ganhavam um colar quando eram jovens. Ela mesma tinha um. A
questão é que Ágata era muito pequena para saber o que era a magia. Algo muito grande acontecia ali e a história da menina que nascera ficaria marcada para sempre”.
Lígia Gosciola Vizeu
Luz e paz!