Ilustração de Josephine Wall
Houve um tempo em que a magia era sentida nos corações mais nobres e
sinceros que existiam na humanidade. Não falo sobre aquela magia que destrói
pessoas e traz as trevas para aqueles que também têm luz, mas sim aquela que dá
cor a vida e aroma as flores que nascem no esplendor da primavera. Aquela que faz brilhar os olhos de uma
criança e tira da escuridão o mais pobre espírito.
Eu vivi neste
tempo e pude experimentar diversas coisas que me trouxeram grande felicidade. A
felicidade plena, posso assim dizer. Eu nunca tive muito poder, apesar de na
época ser um jovem rapaz vindo de uma família rica. O poder nunca me interessou
e talvez por isso a magia nunca tenha me consumido ao longo dos anos. Eu e
Heloísa, minha amada Heloísa, transformamos a magia e trouxemos luz a um mundo
que sucumbia aos poucos, mergulhado em egoísmo.
Eu vivia rodeado
de luxo e bens materiais. As pessoas me davam presentes caros para que eu
continuasse a ter uma vida de nobreza, mas aquilo não me importava. É claro que
o dinheiro tinha um papel importante na vida de um homem, ele trazia muitas
coisas, e quando você adoecia tê-lo era uma garantia de que você poderia sair vivo daquela situação. Mas eu gostava das
coisas simples, eu gostava do amor. O amor incondicional. E isso fez com que eu
visse a vida de outra forma.
Conheci Heloísa
quando eu tinha cerca de 20 anos e ela 19. Seus cabelos negros e cacheados
caiam sobre seu rosto meigo e seus olhos verdes brilhavam da forma mais pura
possível. Ela sorria e dançava. O sorriso mais sincero e amoroso que cheguei a
ver em minha passagem pela Terra. E a sua dança... ah... a sua dança era luz!
Enquanto ela se movia no meio da neve e eu a observava pude ver que a sua volta
rosas surgiam entre as plantas nuas de inverno. Eu me perguntei inúmeras vezes
como elas poderiam surgir em meio a tanto frio. Depois de algum tempo eu
entendi que aquilo era magia. Heloísa trazia flores ao mundo na época em que
todos nos recolhíamos. Trazia cor ao mundo frio.
E enquanto eu
compreendia o que acontecia e começava a ficar maravilhado com a situação eu me
dei conta de que ela não estava mais lá e assustado eu me virei para
procura-la. Assim encontrei-a olhando para mim.
Lígia G. V.
Continua...
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