Existiam apenas três palavras para Laura Mendonça: a tristeza, a infelicidade e a solidão! Laura era uma menina muito bela, seu rosto suave era notado por todos, porém a ausência do sorriso espantava todos. Ela sempre foi muito só. Perderá a mãe muito jovem e desde então nunca mais demonstrou um sinal de afeto. Sua rotina sempre muito cheia de coisas contribuía ainda mais para seu desafeto. Era muito séria, e de vez em quando a escutava chorar em seu quarto. Eu Amélia, que era a empregada, sempre quis ajudá-la, e perguntava a ela porque chorava daquela forma, respostas que sempre foram dadas com um grande e suave silêncio. Eu costumava dizer, então, que o silêncio era a melhor resposta!
Seus olhos azuis deixavam-na ainda mais bela. Combinavam perfeitamente com seus longos e castanhos cabelos. Ela tinha um olhar marcante, significativo. Muitas vezes parecia que queriam falar algo, e nessas inúmeras vezes tentei decifrá-los, foi então que dei de cara com um vazio angustiante!
Seu pai, o Roberto, trabalhava demais, mas também amava demais Laura. Ela lembrava muito sua mãe. E apesar de ser triste e sozinha, Laura tinha personalidade forte, assim como Giovanna, sua mãe. Roberto tinha uma empresa, e por isso, quase nunca estava em casa.
Laura conhecia muitos países. Índia, Itália, Inglaterra, França, Austrália, e por aí vai. Na escola vivia sempre sozinha, sei disso porque certa vez fui levá-la, e ao invés de ir embora, fiquei lá, e vi como era sua rotina escolar. Laura me considerava como uma segunda mãe. Isso era muito especial para mim.
Em seu misterioso quarto havia poucos objetos, porém muito significativos. Poucas bonecas, poucos ursos. Nenhum diário nem nada rosa. Laura não era como a maioria das meninas. Laura dava ao lugar do rosa, o azul e o roxo. Ao lugar de diários, livros filosóficos. E ao lugar de coisas fofinhas, tinha objetos de todos os países que já havia visitado. Não eram objetos sem nexo, para ela, eles significavam muito. Eram sérios... Se é que pode me entender! A cor de seu quarto, não era roxo nem azul. Era uma misturas de cores, como as cores que aparecem nas bolinhas de sabão... Sim! O quarto de Laura era o mais suave possível, claro e harmonioso.
Laura tinha muitas coisas, mas para ela, quase nada daquilo tinha importância. Seus sentimentos eram profundos, e quando falava com alguém, costumava olhar profundamente nos olhos das pessoas. Talvez fosse sensível desde pequena, porque sempre leu muitos livros, os quais eram muito sérios para sua idade. Sempre muito emocionantes, contavam histórias reais, das mais tristes e amargas, as mais felizes e alegres.
Sua inteligência era de chamar atenção. Construía frases com palavras difíceis, e com muita importância. Desde pequena tinha um comportamento sério e educado. Seu interesse por coisas diferentes era muito aparente. Estava sempre em busca de coisas novas.
Com tamanha tristeza, andava arrastando os seus pés, como se a eles estivessem presas, grandes e pesadas correntes. Mas o que sempre me impressionou, é que eu sabia que por trás de tudo isso, havia uma linda menina, que tinha um coração enorme. E isso era o mais importante!
Certo dia, após voltar da escola, Laura foi ao escritório de seu pai. Ela parecia calma, e queria falar algo. Com tamanha sinceridade e confiança, perguntou ao seu pai:
- Por que quase nunca está em casa, pai?
- Tenho que trabalhar filha!
- É claro que tem! Porém, eu esperava que você mostrasse o seu amor por mim.
- Laura, você sabe que a amo muito. E que se tivesse mais tempo, ficaria mais com você.
Com a expressão triste, levantou a cabeça e parecia que iria explodir. Assim falou:
- Você acha que eu não gosto das viagens que nós fazemos? É claro que eu gosto pai. Mas eu quero algo mais. Eu quero o sentimento mais belo, vindo do fundo do coração, aquele que as pessoas se esquecem de demonstrar. Dizem sempre que estão com a agenda cheia e que por isso não tem tempo para nada. Como podem falar assim, papai? Amar é algo profundo, o sentimento mais belo que já existiu. A agenda cheia provoca a raiva, que conseqüentemente provoca o ódio, e assim as pessoas se esquecem de amar. Acham difícil amar. Mas não é. É tão fácil sair por aí dizendo que você ama tal pessoa, e porque quando alguém fala sério, as pessoas acham que é difícil? Vai ver nunca amaram, não sabem como é sentir o amor. Quando a gente ama, os seus olhos sorriem por você, é como se tudo a sua volta tivesse o mesmo valor. Pai, eu não digo o amor que os seres humanos conhecem, estou falando do amor incondicional! Pode me compreender?
Nada foi dito. Roberto parecia assustado com a sinceridade da filha, e constrangido por tudo isso. Já Laura, parecia bem, leve, solta. Por um momento me pareceu feliz! Sim! Feliz!
- Entendi. Você não compreende, não é? Quase ninguém compreende! Fico triste por você pai!
A menina saiu do escritório realmente arrasada, sentou-se a mesa e começou a comer. Enquanto comia, parecia chorar, mas não havia lágrimas, o choro era lá dentro, no fundo do coração.
Bom, mais tarde eu coloco a segunda parte!!
Beijos
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