Era frio, a menina era atrevida, vestia um vestido curto de verão. Seu cabelo estava trançado e uma fita vermelha estava amarrada nos fios ruivos. Ela balançava os pés e ouvia com atenção a melodia que era levada aos seus ouvidos. Brincava de criar. Criava imagens na mente, muitas sem sentido. No meio de todas elas algumas eram reais. Imagens de um passado. Um passado feliz, às vezes triste. Eram coisas que não interessavam mais. Já estavam todas empoeiradas, apesar de serem retiradas do armário quase todos os dias. Ela não tirava a poeira. Deixava-a lá para que lembrasse que não havia motivos para resgatar acontecimentos remotos. Era sábia. Mas mesmo assim ainda tinha as memórias impregnadas na alma. Elas traziam segurança. Não queria esquecer seus pais, seus amigos...
A questão era que abandonar o passado não significava esquecer tudo. Teria todas as lembranças, mas não lutaria para que elas voltassem, e não tentaria mudá-las. Estariam ali, mas estariam quietas. Aceitas. O primeiro passo sempre era a negação, a aceitação vinha em seguida. O problema é que tinha gente que demorava uma vida inteira para aceitar e então era tarde demais.
Corajosa e um pouco relutante, a menina desatou o nó da fita. Enrolou-a nos dedos, e estes se mancharam de pó. Sorrindo profundamente ela jogou a fita no ar e essa dançou com o vento. Pôde ver uma luz vermelha ao longe. Suas lembranças sendo espalhadas, algumas pareciam chorar. Estava livre. Feliz. Finalmente havia se encontrado!
Lígia G. V.
Luz e paz!
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