-Ei, olhe para mim! Apenas... olhe... - disse uma garotinha.
-Estou olhando. - respondi
-Estou olhando. - respondi
-Não! Você não está olhando! Você olha para mim como quem olha para o nada. Sou o nada?
-Não, você não é!
-Então por que me olha assim? Custa muito olhar de forma diferente? Hein?- ela parecia chateada.
-De que forma querida? Você é apenas uma criança, não entende nada sobre olhares.
-Como pode dizer isso? Você foi criança um dia, nunca desejou que olhassem para você de uma forma diferente? Não consigo entender isso.. como as pessoas esquecem as coisas quando crescem. Até parece que nunca tiveram infância.
Permaneci calada. A menina continuou firme a minha frente. De repente olhou-me estranho, daquela maneira que desejava que me olhassem quando eu era pequena. Ela me olhava com amor, intensidade e bondade. Havia tanta coisa ali, havia tudo que eu queria... havia tudo que todos queriam...
-Viu como há diferença?! Eu apenas queria que não me olhassem com desdém, queria que olhassem nos meus olhos... queria palavras belas misturadas ao aroma do campo. Mas dificilmente há o que queremos. Às vezes passamos tanto tempo pensando no que nós desejamos que esquecemos que o nosso desejo pode ser o do próximo e que quem sabe se realizássemos o dele o nosso se realizasse também.
Pensei no que ela dizia. Se ela havia olhado para mim daquele modo, talvez pudesse retribuir. Talvez não tivesse a mesma intensidade e nem a sutileza, mas não custava tentar. Olhei para aqueles belos olhos enigmáticos e por um momento vi a felicidade neles.
-Obrigada!- disse a menina contente.
Foi neste instante que vi surgir na face dela, o sorriso mais belo que desejei ver. Com todas as nuances da felicidade e todos os sentimentos mais puros do universo.
Lígia G. V.
Paz e felicidade a todos!
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