quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Círculo de luz

Ilustração de Glória Gosciola

          Durante a noite meus pés caminhavam, e meus olhos olhavam sem ver. Alguém na varanda cantava uma melodia que parecia-me bela e pura. Atrás de mim alguém passava correndo a todo instante, eu virava, mas ela insistia em se esconder. No céu a lua cheia banhava os campos de trigo. E no canto, mas bem lá no canto mesmo, havia uma estrela perdida.
         Eu sorria sem motivo aparente e chorava um pouco também. Sem me arrepender caminhei até a varanda. O ser ainda cantava e agora tocava violino. Ah, eu sempre desejei tocar violino, mas por barreiras do destino isso nunca foi possível. Ele virou o rosto e olhou para mim. Mas ele não tinha olhos nem boca. Era apenas luz, da mais bela. Mas eu sabia que me observava. Esticou seu braço e me chamou. Sentei ao seu lado e ele cantou.
         Não fazia sentido estar ali, ao lado de um ser de luz, ouvindo-o cantar. Mas esse era o meu desejo, sempre fora. Era mágico e real. As libélulas voavam em torno de mim, e no céu, aos poucos, dois sois começaram a surgir.
         "Quer tentar?", o ser perguntou para mim, estendendo o violino. Toquei a música mais bela que já ouvi. Era como se eu soubesse o que estava fazendo. De repente meus braços tornaram-se luz. O ser me olhou e disse "não sente falta?", e sem pensar eu respondi que sim. Devolvi o violino e ele voltou a tocar. Compreendi que o ser era uma moça, pois usava um vestido furta cor. Era bela por inteira. Não sabia o que fazer, pois queria estar ali para sempre.
         Nos campos de trigo começavam a aparecer muitos outros seres. Todos iguais. À medida que se aproximavam, eles formavam uma roda. A moça no meio tocava uma nova melodia. E agora nós dançávamos em circulo. Era infinito. Éramos infinitos. Éramos todos luz, como sempre foi e sempre será.
         "Espere, querida. As coisas acontecerão no momento certo. Agora deve voltar. Nós esperaremos todos vocês e ajudaremos". Eu voltei aos poucos para o meu quarto, em algum lugar alguém ainda corria ansiosamente e às vezes gritava.
         Eu esperaria, como havia esperado por muito tempo por aquele momento.
         Eu despertei. Estava confusa e feliz. Algo havia acontecido, mas eu não me lembrava de nada. Mesmo assim, sentia uma profunda felicidade, aquela que todos desejam. E meus olhos olhavam o jardim e eu via, bem lá no fundo, seres de luz dançando e cantando. A paz pincelando o local e pintando-me inteira por dentro!

         Lígia G. V.
         Muita luz e paz!

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