domingo, 30 de janeiro de 2011

Para Rodrigo

       "Rodrigo, não estou com medo, e nem ficarei. Sim, eu sabia que eu escutaria o que não desejava. Nem por isso entristeci-me por completo. Estou mesmo contente que você venha para cá. Realmente temos muito o que conversar.
        Sonhei com você outro dia. Você me dizia que eu deveria ouvir o vento, que ele sempre traria respostas. Apenas por isso fui escutá-lo. Mesmo que eu queira, mesmo que tudo em mim queira que eu me conecte com certas coisas, estou tentando me afastar, só por enquanto. Ando meio confusa sabe. Principalmente depois do que eu ouvi. Mas nós dois sabemos que eu não conseguirei permanecer longe de certas coisas por muito tempo. Está em mim, sempre esteve desde pequena. Lembra quando eu tinha cinco anos e dizia coisas que ninguém compreendia? Era comum isso acontecer, mas se perdeu no tempo, como muitas outras coisas.
         Tenho que admitir que agora que estou escrevendo para você, uma tristeza muita grande tomou conta de mim! Por que isso? Por que assim? Há chances das coisas acontecerem de outra forma? Creio que sim, não é? Espero que sim...
         Sei que trará seu primo junto com você. Isso é bom, assim nos distrairemos.
         Rodrigo, acredita em unicórnios? Anita disse que não existem, mas algo dentro de mim diz o contrário. Não sei porque, mas isso tem me perturbado já faz alguns dias. Devo esquecer?
         Esperarei por vocês,
         Laura."
         Lígia G. V.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Para Laura

         "Eu sei que você sabe que eu mandaria esta carta. Sinto muito pelo o que teve que ouvir. Mas você estava ciente disso, certo? Fatos são fatos. Mas talvez você possa mudá-los. Mas lembre-se sempre, meu anjo, que não há motivo para sofrer por antecipação. As coisas são como devem ser.
        Como você já sabe, eu estarei aí em breve. Poderemos colocar o papo em dia. Estava com uns problemas de saúde, mas já estou melhor.
        Lembre-se, você é mais forte que tudo que te impede. É mais forte do que destinos inexistentes. Você nunca precisou de doses reais para viver. A vida não precisa ser vivida apenas pelo real. Assim como você não deve viver apenas da fantasia. Mas eu sei que você achou um equilíbrio, e sei também que para você todas as coisas existem.
        Fique bem, minha pequena. Logo estarei com você.
        Um grande beijo,
        Rodrigo."

        Lígia G. V.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O que o vento diz?

      "Laura, Laura, pode me ouvir? Veja como as estrelas estão brilhantes hoje. Ouça o vento... ouça o vento - a voz do rapaz ecoava no grande campo repleto de vaga-lumes. - Eu sempre disse que o vento traria respostas, ou quem sabe notícias. - ele ria. Suas palavras não faziam sentido. - Veja, lá no fundo! O que é aquilo? Um unicórnio? Sim. Um lindo unicórnio!"

       - Acorde Laura! É só um sonho - disse Anita assustada.
       A menina tinha o braço erguido e apontava para os campos verdes que eram vistos pela janela aberta.   Para o que ela apontava?
     - Abaixe esse braço, vamos! Não me assuste menina. Tenho muitas coisas para fazer e você já é grande. Terei sempre que cuidar de você?
     - Não, Anita! Você tem razão. Mas desculpe, eu não tenho culpa dos sonhos que tenho.
     - Tudo bem, vamos deixar isso para lá. Estarei lá fora, se precisar.
    A empregada saiu do quarto, abandonando Laura. A jovem permanecia em silêncio, que era um tanto angustiante. Ela olhava para fora. Olhava os belos campos, que misturavam o verde vivo com o azul intenso  do céu. Pensava no sonho. Por que sonhara com Rodrigo? E por que ele parecia estranho? "Ora, não passa de um sonho", a menina pensou. Mas no fundo ela sabia que não era apenas isso.
    Era um belo dia, o sol era forte e queimava a pele branca de Laura, que agora estava no meio dos campos de trigo, examinando o ambiente. "Onde está o unicórnio? Onde está?" Ela não o encontraria. Unicórnios eram animais mágicos, e esta história não contém tanta magia assim. Mas aos olhos de quem a vê, talvez, ela seja mais poderosa do que para quem a conta.
    "Ouça o vento... ouça o vento" - a voz de Rodrigo surgiu na mente de Laura novamente. O vento falava para aqueles que estavam dispostas a escutá-lo. E era difícil que Laura não quisesse.
     Os trigos se agitaram por um breve instante. O cabelo da jovem tocou seu rosto. "Devo-lhe escutar, meu querido?" Ventou novamente. A partir daí o vento foi tamanho que fizera Laura temer. "Realmente ele tem voz."
      Isso não era nada excepcional. Desde tempos muito distantes a natureza "falava". E isso era mais uma questão de paixão. Havia algo nos corações e almas de muitas pessoas que se conectava a todo instante com a natureza. Algo que era antigo, talvez mais antigo do que mentes humanas pudessem imaginar. Havia uma conexão muito grande entre todos e tudo, e só quem quisesse viver uma mentira não seria capaz de observar isso.
      Os trigos continuavam a balançar, e Laura estava de olhos fechados. Coisas eram sussurradas em seus ouvidos. Às vezes ela sorria, mas a maior parte do tempo permaneceu séria. Ela não ouvia apenas o que desejava. Assim como quem via, não via apenas o agradável. A menina abriu os olhos e fitou o céu. Dois grandes pássaros sobrevoavam o local.
      "Devo sair daqui. Trago notícias. Notícias de terras distantes. De pessoas que nem ao menos conheço. Mas eu desejei escutá-lo, agora devo aceitar. Não posso ouvir apenas o que me faz bem. A verdade sempre me foi dita, e não posso começar a me enganar agora."
       Laura caminhou rapidamente até sua casa. Avistou de longe, uma mulher andando ansiosamente, de um lado para o outro. Era Anita. Era cuidadosa com Laura, principalmente porque prometera para os pais da menina, que tomaria conta dela pelo resto de sua vida. Talvez fosse tempo demais...
     - Laura, está louca? Já não basta de manhã, quando achei que a senhorita estava enlouquecendo! - disse severamente. - Agora você simplesmente some! Quer me matar do coração? - ela olhou diretamente para os olhos da jovem.
     - Pensei que você tivesse me visto saindo. Sinto muito, novamente. - ela riu - Estou cansada. Vou entrar e descansar.
     - Ei, ei, mocinha! Não vai me contar onde estava?
     - Estava ali - Laura apontou para os campos de trigo, que ficavam ao lado dos campos verdes que apontara logo que acordara.
      - Ora! O que foi fazer ali? Ver se encontrava algo? Afinal, para o que apontava quando te acordei?
      Laura gelou por um instante. Se contasse a ela, com toda certeza ela não gostaria. Anita tinha medo de tais coisas, de unicórnios talvez tivesse mais ainda. Mesmo assim falou.
    - Sonhei com um unicórnio. Era ele que eu apontava.
    - Unicórnios? Não existem, querida! Você deveria estar com medo, e devia ficar dentro de casa. Ao invés disso, sai por aí, caçando!
    - Anita, não cacei nada. Unicórnios são criaturas boas, não fazem mal. E se não existem, por que está tão preocupada? - a jovem riu - Ora, vamos para dentro!
       As duas entraram. Uma extremamente preocupada e assustada com o que a outra dissera. A outra, porém, estava alegre. Amava coisas desconhecidas. Adorava a natureza. Conhecia um pouco da magia, e não gostava do que escutara. Agora ela sabia que seu jovem amigo já havia enviado uma carta. Talvez soubesse também, o conteúdo dela. Não importava. Ouvir o vento não era para muitos. Era preciso confiança e coragem, e isso Laura tinha de sobra. Os acontecimentos seguintes seriam mágicos, puros e belos. Quem sabe tivessem um pingo de tristeza também. A vida nunca foi feita apenas de magia e fantasia.


Lígia G. V.
Luz e paz!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

      Suas palavras fétidas mal podem ser entendidas. Seus olhos vermelhos me entristecem e me fazem lembrar de um tempo remoto. Seu passado está inteiro sob poeira e terra. Mesmo assim é capaz de desenterrá-lo. Ah, parece tão pobre agora. Sem bens, sem vida, sem ar. O cheiro de bebida me enlouquece. Perdeu-se tão rapidamente... parece impossível trazê-lo de volta!
     - Acorde Roberto, acorde!
     Dá dois passos e cai na cama, seus olhos agora transbordando em lágrimas.
     - Veja Maria, veja o que meus problemas fizeram comigo!
     - Seus problemas não têm culpa. Você conhece muito bem o culpado, Roberto!
     Pega a taça de vinho. Dá dois grandes goles e a taça cai no chão. O vinho faz todo o trajeto pelo seu corpo cansado. Seu coração pulsa fraco. Segura o cigarro e dá uma tragada. A fumaça sai em forma de morte. O vinho bebido faz o trajeto de volta e chega a sua boca novamente e este transborda e pinga no lençol neve. A bebida se mistura com o sangue. Eu grito.
      Nossos corações param de bater...

      Lígia G. V.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

De volta ao passado

         Laura tinha mania de mandar cartas. Começou a mandá-las quando era muito pequenina. Amélia, sua mãe, dera a ela um lindo papel de carta. A menina passou horas grudada nele, não o largava de jeito algum. As pessoas olhavam e diziam "que bonitinha, tão jovem e já apaixonada pela escrita". O que elas não sabiam é que a pequena Laurinha, como todos a chamavam, não sabia escrever ainda. Fora no dia seguinte apenas, que ela conseguiu escrever "Para Rodrigo".
        Rodrigo era filho de Rosana e Alberto, amigos dos pais de Laura. Os dois eram grandes amigos. Alguns diziam que eram como irmãos. Como eu dizia, a primeira carta que mandou foi para Rodrigo. A menina se esforçou muito para escrevê-la e era de se admirar que ela ficasse tão contente com isso. Alguns jovens não gostavam de escrever, muito menos de ler. Segue a carta.
       "Oi Rodrigo. Tenho saudade de você. Está bem? Só estou mandando essa carta porque aprendi a escrever e estou muito feliz.
        Com muito carinho,
        Laurinha."
        Todos sabiam que Amélia tinha ajudado a jovem a escrever, mas o que importava é que Laura havia dado um passo importante em sua vida.
       Laura perdera a mãe dois anos depois de ter aprendido a escrever. Fora uma perda muito dolorosa. Passava os dias dentro de casa calada e vivia se perguntando se a vida era assim mesmo. Ela conhecia a resposta, mas fingia que não.
       O tempo passou e a paixão pela escrita só crescia. Todos os dias Laura escrevia em seu diário. Diários eram comuns, mas o de Laura não tinha só confissões do seu dia-a-dia. Ela escrevia contos. Contos amados por ela e por muitas crianças. A escrita era doce e fazia do escritor um doce também.
       Faz pouco tempo que se pai faleceu, a menina, porém, não se deixou abater tanto. Ela amava o pai como amava a mãe. Mas agora ela sabia que sofrer tanto não valia a pena. Ela esperava por Rodrigo, mas ele a desapontou. O trabalho às vezes exigia muito. Mas talvez não fosse somente isso.
       Ah, quase me esqueci da parte mais importante. Laura e Rodrigo sempre tiveram uma espécie de amor por coisas desconhecidas. Sempre buscaram respostas para tudo. E sempre souberam que há sempre um grande segredo por trás de coisas aparentemente simples.
       Para a paz de Laura, seria bom que ela soubesse que Rodrigo enviou uma carta a ela. Eu poderia contar, mas vamos deixar que o vento se encarregue disso!

      
       Ligia G. V.
       Um grande abraço! (:

sábado, 15 de janeiro de 2011

Logo ali

          Eu sentia as lágrimas correrem pelo meu rosto e sentia-me mais triste. Lágrimas eram boas. Eram boas mesmo. Tiravam-me todo o sufoco que eu sentia. Mas aquilo não bastava.
          Tombei a cabeça para o lado para parecer uma pessoa normal. Mas na verdade eu deveria parecer maluca ali, sentada no banco da praça, chorando como uma criança.
           Fechei os olhos para esquecer o que via. Mas as imagens me perseguiam constantemente. Era triste, muito triste. Era real e por isso entristecia-me. Eu não podia fazer nada, as pessoas não acreditavam muito em visões. "É melhor calar-se".
          Com os olhos ainda fechados percebi que alguém sentara ao meu lado. Abri os olhos para ver quem era. Um senhor com bela aparência, cabelos brancos, simpático e feliz. Ele seria feliz se soubesse o que eu sabia?
          - Por que chora criança?
          - Nada muito importante. Apenas alguns acontecimentos que me abalaram.
          Não podia contar. Não podia. Mas talvez eu o fizesse mais feliz se contasse o que eu sabia. Mas a felicidade que ele sentia ali e naquele momento era muito grande para que eu a destruísse. Felicidade momentânea, apenas.
          - Entendo que não queira me contar, afinal acaba de me conhecer. Ele sorriu.
          - Não é isso. É que não quero perturbar-lhe com essas coisas.
          - Oras, se eu estou aqui é porque quero ajudá-la.
          Eu não sabia o que fazer. Eu poderia inventar qualquer coisa, se minha voz não soasse tão falsa quando eu mentia. "Conte para ele, talvez seja melhor." "Não, não conte". Era difícil guardar grandes coisas. Principalmente quando não se contava para alguém. Eu sentia o peso do universo em minhas costas.
          - Não vai dizer? Tudo bem se não me contar. Mas vejo que está perturbada com alguma coisa. Talvez seja melhor contar. Vai se sentir melhor. Às vezes não percebemos que temos a chance de compartilhar algo bom e nos calamos.
          - O que eu tenho não é bom, senhor.
          - Isso é relativo, minha jovem. Se quiser eu estou aqui.
          Eu deveria contar, talvez de uma forma que não ficasse tão claro. Seria um aviso. O senhor era sábio, ele iria entender.
          - Está chegando. Está perto, muito perto. Vem com muita força, não há como impedir - eu disse vomitando as palavras.
          Levantei do banco e comecei a andar. As lágrimas voltaram a rolar pela minha face assustada. Ele iria entender. O senhor ainda sentado me chamou e eu virei a cabeça.
         - Eu sei, eu sei! - ele disse por fim.

         Lígia G. V.
         Luz e paz!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O menino da árvore


Não olha, não nota, não chora.

Há sempre um silêncio amigo...

Perdido em devaneios felizes.

Não gosta, não pede, não grita.

Gosta é mesmo do silêncio.

Nunca quis as luzes.

Admira os parques pequenos   

 e os olhares humildes.

Gosta mesmo é das asas grandes.

Bem grandes.

E sonha até mesmo acordado.
            
  É um pequeno menino grande

Que às vezes me faz lembrar o Sidarta
              
 E que faz nascer em todos que o veem,

a pura flor de lótus.


Lígia.
Luz e paz!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A diferença rotula?

     Eu brincava com os dedos enquanto meu pai andava pela areia da praia. Ele estava triste, fato. Não sei o que causava aquilo. Talvez fosse a solidão. Mas acho que não. Mamãe estava na cozinha preparando um lanche e Louise brincava com seu amigo imaginário.
     Andei lentamente até alcançar meu pai, meus passos mal marcavam a areia. No horizonte o sol já começava a sumir. A hora perfeita do dia, pelo menos para mim.
     - Pai? Está tudo bem?
     - Oi filha, nem vi você chegar - disse sorrindo. - Estou bem. Só pensei em caminhar pela praia para refrescar a mente.
     - Entendo. E no que você tanto pensa?
     Ele me estendeu a mão e me levou até uma pedra e então sentamos.
     - Pensei em muitas coisas, querida. Mas o que mais me rendeu - ele riu - foi perceber que ser diferente realmente não agrada muita gente. Sempre temos que dizer o que as pessoas querem ouvir. Sempre temos que elogiá-las para que elas te deem valor.
     - É, isso é assim mesmo. Tem sempre que se estar em um padrão. Sempre temos que ter rótulos. Dói ver que não somos reconhecidos pelas nossas qualidades, pelo que nós somos capazes de fazer. Mas não adianta dizer, muita gente nega isso. Alguns dizem que isso é inveja dos egoístas. Não sei. Não acho isso. Se todos fossem amados pelo que são, ninguém precisaria sair sempre mascarado. Ultimamente bailes de máscaras têm durado o ano inteiro.
    - Tem razão, filha. Mas você é bela como é. E não me importo que seja diferente. Isso talvez seja culpa minha e da sua mãe.
    - Claro que não, pai. Sou assim porque quero, claro que pode ter tido alguma interferência. - eu ri.
    - Veja, sua mãe já está lá fora com o lanche, acho que devemos ir.
    - Vá na frente, eu vou ficar aqui mais um pouco.
    Meus olhos lacrimejavam quando meu pai foi embora. Ser diferente era um rótulo também? Não me importava com isso, eu estava realmente cansada de não ser reconhecida. Isso duraria até quando? Ao som dos pássaros e à luz do pôr do sol eu percebi que ser diferente não era ruim. Às vezes feria um pouco. Mas todos se ferem um dia, não é? Não importava se eu fosse sozinha, pois eu teria sempre as pessoas que me amavam e que eu amava, ao meu lado. E isso era o que bastava.

Lígia G. V.
Luz e paz!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Algum tempo depois...

       Passaram alguns meses e Rodrigo não veio me visitar. Anita faz o bolo que ele pediu, todos os finais de semana. Eu pensei algumas vezes que ele estivesse morto, mas acredito que não. Sinto falta dele, sinto mesmo. Mas não tenho o que fazer. Gostaria que ele estivesse aqui agora. As coisas seriam mais divertidas.
       Não posso negar que Anita tenha razão. Meus olhos têm estado mortos ultimamente. Sinto-me cansada a maior parte do tempo. Às vezes me pego vagando por aí, sem rumo. Eu deveria me preocupar, pois poderia estar doente. Mas sei que não é isso, e também sei o que é. Sinto falta também das amoras. Sim, pode rir de mim se quiser, mas elas são a minha paixão e elas têm muita história. Quem dera nascessem novamente.
        Durante esses meses nada fiz além de olhar o horizonte. Conforta-me. É quando faço isso que me esqueço do tempo. E é bom lembrar que não há tempo. Ah, Rodrigo, onde está, meu amigo? Queria contar alguns segredos a ele, pois sei que só ele compartilha a minha loucura. Por enquanto estou só no fim do mundo, onde as luzes não existem e andamos a cavalo.
        Devo mandar uma carta a ele novamente. Sei que isso é um jogo da minha mente, para que eu possa senti-lo vivo novamente, mas não me importo.
        Enquanto ele não vem e eu não mando a carta, farei de tudo para saborear melhor os dias e deixar de lado isso que consome e me entristece todos os dias. Irei às estrelas!

      
        Lígia G.V.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Terra de gigantes

     O menino estava sentado na calçada vendo os pássaros voarem. Seus olhos brilhavam, mas eu não tinha certeza se o motivo era o que ele via. Era jovem, talvez não conhecesse as dores e as belezas do mundo. O que me intrigava mesmo era o modo que suas mãos se apertavam a todo instante.
     - Olá, posso me sentar aqui?
     - Pode - respondeu timidamente. Era corajoso, porque para ele eu era uma desconhecida.
     - Gosta dos pássaros?
     - É, eles me encantam um pouco. Gosto da forma que voam. Voar deve ser bom.
     - Acredito que sim. Nunca voei, mas esse deve ser o desejo de muitos.
     - Deve... - e o menino ficou triste. Nunca vira a tristeza brotar de forma tão grande nos olhos de alguém tão jovem.
     - O que foi, querido? Por que está assim tão triste?
     - Pareço triste? Droga! Não queria deixar os sentimentos assim, tão aparentes. Mas não consigo camuflá-los.
     - Ei, isso é bom. Quando somos crianças não conseguimos fingir. Deveria se orgulhar. Você aprenderá muitas coisas quando crescer. E uma delas é que não deve mentir ou fingir. Mas diga-me, o que há?
     - Estou aqui há tempos sem fazer nada, apenas olhando os pássaros. Mas há pouco tempo passou uma moça. Ela parecia triste. Desejei do fundo do coração poder ajudá-la, mas ela teve medo de mim. Pareço ladrão? Mesmo assim pude ver a sua grandeza, e sabia que mesmo triste ela seria feliz. Então a chamei e disse algumas coisas. Ela sorriu e me agradeceu. Nunca digo nada a ninguém, mas desta vez eu disse. Ela pareceu feliz. Gostei de ajudá-la. Eu gosto de ajudar. E gosto de encontrar a grandeza nas pessoas.
     - Isso é bom. Admiro muito pessoas assim. Olha posso passar sempre por aqui e podemos conversar mais   vezes. O que você me diz?
     - Seria bom. Gosto de você. Posso ver o quanto é boa e o quanto deseja o bem. Posso ser seu amigo? Gosto de amigos. E meus amigos são todos gigantes. Têm almas gigantes. Sinto-me triste às vezes por estar aqui, por isso chorava por dentro a pouco tempo. E você conseguiu ver. Isso não é lindo? Eu gosto. Você é gigante.
     - Obrigada, querido. Ficarei honrada em ser sua amiga. A forma com que vê o mundo é muito sutil e bela. Não perca isso jamais. Agora tenho que ir. Mais tarde passo por aqui.
     O menino acenou e ela seguiu seu caminho. Enquanto via a jovem moça partir ele apenas pensava "amo essa terra de gigantes"

     Lígia G.V.
     Luz e paz
   Sentia sua falta, quando na verdade não podia e nem deveria sentir. Mas o sentimento é algo rápido demais e é impossível impedí-lo de chegar no coração. E quando lá ele se aloja a coisa fica mais complicada. Eu não queria sentir vontade de ver seus olhos todos os dias, não queria querer ouvir a sua voz. Porque dói quando já não se tem a pessoa perto. E não é simples esquecer. O coração vive a acelerar mesmo anos depois. Isso é o sentimento ainda vivo? Quando as cores se agitam no céu, é difícil não lembrar. Eu odeio romances. E odeio mais ainda sentir saudade de coisas que nunca existiram.

   Lígia

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Palavras atrás do véu cinza se agitam e correm. Não desespera não anima, é só um ciclo. Um ciclo perdido em mãos imundas. Dói ver que seus olhos, que um dia foram tão brilhantes, estão envoltos pela cegueira do véu!

Lígia
Luz e paz!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

     Corra para ver o conto de fadas se acabando. Transforma-se em pó mágico e este permanece no chão até que o vento possa levá-lo até o próximo castelo. Eu nunca disse que essa história era perfeita. Não há mais alegria lá, onde antes os risos pareciam reinar. Ora, o coelho despertou, correu e acabou-se ali. Sem lágrimas, por favor, as suas nunca foram sinceras. Sempre fora um jogo baixo da realeza? Não, não. Você modificou as regras e não há mais porque esperar um final feliz. Aquele lugar está condenado agora. Não espero a escuridão, pois ele não merece, nem quem o destruiu mereceria um fim trágico. Vamos esperar, as cortinas logo se abrirão para seu novo teatro. Só basta saber qual será o seu jogo e a sua máscara agora!

    Abraços!
    Lígia.