quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O que o vento diz?

      "Laura, Laura, pode me ouvir? Veja como as estrelas estão brilhantes hoje. Ouça o vento... ouça o vento - a voz do rapaz ecoava no grande campo repleto de vaga-lumes. - Eu sempre disse que o vento traria respostas, ou quem sabe notícias. - ele ria. Suas palavras não faziam sentido. - Veja, lá no fundo! O que é aquilo? Um unicórnio? Sim. Um lindo unicórnio!"

       - Acorde Laura! É só um sonho - disse Anita assustada.
       A menina tinha o braço erguido e apontava para os campos verdes que eram vistos pela janela aberta.   Para o que ela apontava?
     - Abaixe esse braço, vamos! Não me assuste menina. Tenho muitas coisas para fazer e você já é grande. Terei sempre que cuidar de você?
     - Não, Anita! Você tem razão. Mas desculpe, eu não tenho culpa dos sonhos que tenho.
     - Tudo bem, vamos deixar isso para lá. Estarei lá fora, se precisar.
    A empregada saiu do quarto, abandonando Laura. A jovem permanecia em silêncio, que era um tanto angustiante. Ela olhava para fora. Olhava os belos campos, que misturavam o verde vivo com o azul intenso  do céu. Pensava no sonho. Por que sonhara com Rodrigo? E por que ele parecia estranho? "Ora, não passa de um sonho", a menina pensou. Mas no fundo ela sabia que não era apenas isso.
    Era um belo dia, o sol era forte e queimava a pele branca de Laura, que agora estava no meio dos campos de trigo, examinando o ambiente. "Onde está o unicórnio? Onde está?" Ela não o encontraria. Unicórnios eram animais mágicos, e esta história não contém tanta magia assim. Mas aos olhos de quem a vê, talvez, ela seja mais poderosa do que para quem a conta.
    "Ouça o vento... ouça o vento" - a voz de Rodrigo surgiu na mente de Laura novamente. O vento falava para aqueles que estavam dispostas a escutá-lo. E era difícil que Laura não quisesse.
     Os trigos se agitaram por um breve instante. O cabelo da jovem tocou seu rosto. "Devo-lhe escutar, meu querido?" Ventou novamente. A partir daí o vento foi tamanho que fizera Laura temer. "Realmente ele tem voz."
      Isso não era nada excepcional. Desde tempos muito distantes a natureza "falava". E isso era mais uma questão de paixão. Havia algo nos corações e almas de muitas pessoas que se conectava a todo instante com a natureza. Algo que era antigo, talvez mais antigo do que mentes humanas pudessem imaginar. Havia uma conexão muito grande entre todos e tudo, e só quem quisesse viver uma mentira não seria capaz de observar isso.
      Os trigos continuavam a balançar, e Laura estava de olhos fechados. Coisas eram sussurradas em seus ouvidos. Às vezes ela sorria, mas a maior parte do tempo permaneceu séria. Ela não ouvia apenas o que desejava. Assim como quem via, não via apenas o agradável. A menina abriu os olhos e fitou o céu. Dois grandes pássaros sobrevoavam o local.
      "Devo sair daqui. Trago notícias. Notícias de terras distantes. De pessoas que nem ao menos conheço. Mas eu desejei escutá-lo, agora devo aceitar. Não posso ouvir apenas o que me faz bem. A verdade sempre me foi dita, e não posso começar a me enganar agora."
       Laura caminhou rapidamente até sua casa. Avistou de longe, uma mulher andando ansiosamente, de um lado para o outro. Era Anita. Era cuidadosa com Laura, principalmente porque prometera para os pais da menina, que tomaria conta dela pelo resto de sua vida. Talvez fosse tempo demais...
     - Laura, está louca? Já não basta de manhã, quando achei que a senhorita estava enlouquecendo! - disse severamente. - Agora você simplesmente some! Quer me matar do coração? - ela olhou diretamente para os olhos da jovem.
     - Pensei que você tivesse me visto saindo. Sinto muito, novamente. - ela riu - Estou cansada. Vou entrar e descansar.
     - Ei, ei, mocinha! Não vai me contar onde estava?
     - Estava ali - Laura apontou para os campos de trigo, que ficavam ao lado dos campos verdes que apontara logo que acordara.
      - Ora! O que foi fazer ali? Ver se encontrava algo? Afinal, para o que apontava quando te acordei?
      Laura gelou por um instante. Se contasse a ela, com toda certeza ela não gostaria. Anita tinha medo de tais coisas, de unicórnios talvez tivesse mais ainda. Mesmo assim falou.
    - Sonhei com um unicórnio. Era ele que eu apontava.
    - Unicórnios? Não existem, querida! Você deveria estar com medo, e devia ficar dentro de casa. Ao invés disso, sai por aí, caçando!
    - Anita, não cacei nada. Unicórnios são criaturas boas, não fazem mal. E se não existem, por que está tão preocupada? - a jovem riu - Ora, vamos para dentro!
       As duas entraram. Uma extremamente preocupada e assustada com o que a outra dissera. A outra, porém, estava alegre. Amava coisas desconhecidas. Adorava a natureza. Conhecia um pouco da magia, e não gostava do que escutara. Agora ela sabia que seu jovem amigo já havia enviado uma carta. Talvez soubesse também, o conteúdo dela. Não importava. Ouvir o vento não era para muitos. Era preciso confiança e coragem, e isso Laura tinha de sobra. Os acontecimentos seguintes seriam mágicos, puros e belos. Quem sabe tivessem um pingo de tristeza também. A vida nunca foi feita apenas de magia e fantasia.


Lígia G. V.
Luz e paz!

2 comentários:

  1. ''Eu sempre disse que o vento traria respostas'' Perfeitoo :)
    Gostei do seu blog
    Visita o meu?
    http://fearfulfeelings.blogspot.com/
    Bgs

    ResponderExcluir