sábado, 15 de janeiro de 2011

Logo ali

          Eu sentia as lágrimas correrem pelo meu rosto e sentia-me mais triste. Lágrimas eram boas. Eram boas mesmo. Tiravam-me todo o sufoco que eu sentia. Mas aquilo não bastava.
          Tombei a cabeça para o lado para parecer uma pessoa normal. Mas na verdade eu deveria parecer maluca ali, sentada no banco da praça, chorando como uma criança.
           Fechei os olhos para esquecer o que via. Mas as imagens me perseguiam constantemente. Era triste, muito triste. Era real e por isso entristecia-me. Eu não podia fazer nada, as pessoas não acreditavam muito em visões. "É melhor calar-se".
          Com os olhos ainda fechados percebi que alguém sentara ao meu lado. Abri os olhos para ver quem era. Um senhor com bela aparência, cabelos brancos, simpático e feliz. Ele seria feliz se soubesse o que eu sabia?
          - Por que chora criança?
          - Nada muito importante. Apenas alguns acontecimentos que me abalaram.
          Não podia contar. Não podia. Mas talvez eu o fizesse mais feliz se contasse o que eu sabia. Mas a felicidade que ele sentia ali e naquele momento era muito grande para que eu a destruísse. Felicidade momentânea, apenas.
          - Entendo que não queira me contar, afinal acaba de me conhecer. Ele sorriu.
          - Não é isso. É que não quero perturbar-lhe com essas coisas.
          - Oras, se eu estou aqui é porque quero ajudá-la.
          Eu não sabia o que fazer. Eu poderia inventar qualquer coisa, se minha voz não soasse tão falsa quando eu mentia. "Conte para ele, talvez seja melhor." "Não, não conte". Era difícil guardar grandes coisas. Principalmente quando não se contava para alguém. Eu sentia o peso do universo em minhas costas.
          - Não vai dizer? Tudo bem se não me contar. Mas vejo que está perturbada com alguma coisa. Talvez seja melhor contar. Vai se sentir melhor. Às vezes não percebemos que temos a chance de compartilhar algo bom e nos calamos.
          - O que eu tenho não é bom, senhor.
          - Isso é relativo, minha jovem. Se quiser eu estou aqui.
          Eu deveria contar, talvez de uma forma que não ficasse tão claro. Seria um aviso. O senhor era sábio, ele iria entender.
          - Está chegando. Está perto, muito perto. Vem com muita força, não há como impedir - eu disse vomitando as palavras.
          Levantei do banco e comecei a andar. As lágrimas voltaram a rolar pela minha face assustada. Ele iria entender. O senhor ainda sentado me chamou e eu virei a cabeça.
         - Eu sei, eu sei! - ele disse por fim.

         Lígia G. V.
         Luz e paz!

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