Eu brincava com os dedos enquanto meu pai andava pela areia da praia. Ele estava triste, fato. Não sei o que causava aquilo. Talvez fosse a solidão. Mas acho que não. Mamãe estava na cozinha preparando um lanche e Louise brincava com seu amigo imaginário.
Andei lentamente até alcançar meu pai, meus passos mal marcavam a areia. No horizonte o sol já começava a sumir. A hora perfeita do dia, pelo menos para mim.
- Pai? Está tudo bem?
- Oi filha, nem vi você chegar - disse sorrindo. - Estou bem. Só pensei em caminhar pela praia para refrescar a mente.
- Entendo. E no que você tanto pensa?
Ele me estendeu a mão e me levou até uma pedra e então sentamos.
- Pensei em muitas coisas, querida. Mas o que mais me rendeu - ele riu - foi perceber que ser diferente realmente não agrada muita gente. Sempre temos que dizer o que as pessoas querem ouvir. Sempre temos que elogiá-las para que elas te deem valor.
- É, isso é assim mesmo. Tem sempre que se estar em um padrão. Sempre temos que ter rótulos. Dói ver que não somos reconhecidos pelas nossas qualidades, pelo que nós somos capazes de fazer. Mas não adianta dizer, muita gente nega isso. Alguns dizem que isso é inveja dos egoístas. Não sei. Não acho isso. Se todos fossem amados pelo que são, ninguém precisaria sair sempre mascarado. Ultimamente bailes de máscaras têm durado o ano inteiro.
- Tem razão, filha. Mas você é bela como é. E não me importo que seja diferente. Isso talvez seja culpa minha e da sua mãe.
- Claro que não, pai. Sou assim porque quero, claro que pode ter tido alguma interferência. - eu ri.
- Veja, sua mãe já está lá fora com o lanche, acho que devemos ir.
- Vá na frente, eu vou ficar aqui mais um pouco.
Meus olhos lacrimejavam quando meu pai foi embora. Ser diferente era um rótulo também? Não me importava com isso, eu estava realmente cansada de não ser reconhecida. Isso duraria até quando? Ao som dos pássaros e à luz do pôr do sol eu percebi que ser diferente não era ruim. Às vezes feria um pouco. Mas todos se ferem um dia, não é? Não importava se eu fosse sozinha, pois eu teria sempre as pessoas que me amavam e que eu amava, ao meu lado. E isso era o que bastava.
Lígia G. V.
Luz e paz!
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