segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Olhos mortos

           Olhares tristes e parados. Mãos aflitas e respirações angustiadas. Um olhar no céu, outro na Terra. O homem estirado no chão nada mais dizia e as mãos quentes tornavam-se geladas. Palavras eram sussurradas em seus ouvidos, mas nada era escutado.
           Uma moça sentada no chão espalhava suas lágrimas cristalinas na estrada. Suas mãos eram constantemente levadas ao rosto e ela se encolhia feito uma criança. Procurava pelos olhos do amado, e a escuridão a fechava. Focos de luz ao corpo que agora era feito uma estátua. Seus lábios de rosa começavam a se perder no rosto machucado.
           Palavras... talvez palavras. Era o que a moça desejava dizer e ouvir... apenas ver sorrisos e ouvir risos. Talvez olhar os olhos pela  última vez, como uma despedida... tanto faz... queria sentir o único abraço confortante. Desejava-o vivo! E tentava trazê-lo de volta, mas nada acontecia. Aqueles olhos haviam se fechado, e desta vez, não para um sonho.
          Seu carro estraçalhado no meio do caminho. Fotos estavam espalhadas pela grama. Nenhuma criança. Uma mente a rezar, outra a chorar.
          A moça continuava tentando abrir aqueles olhos roxos. Parecia dizer "vamos, abra os olhos!". Mas ela não os veria de novo, não do modo que esperava. Ela desejava nunca esquecê-lo, porém nunca era muito tempo. Suas dores seriam empurradas para debaixo do tapete, se assim desejasse.
          Uma voz calma e suave disse "venha minha querida, precisa deixá-lo agora". E alguns surgiram para ajudá-la a se levantar. Andava aos tropeços e deixava no ar sua esperança esmigalhada.
          Uma lona preta o cobriu e agora era definitivo. Como em um ato de agradecimento, a moça se curvava e o deixava. Seus olhos estavam vermelhos e sua expressão era vazia. Não entendia porque vê-lo partir era, momentaneamente, tão doloroso.
           Seu corpo fora cremado e suas cinzas jogadas ao vento. Talvez virassem pó de estrela ou quem sabe não. Sua luz seria sempre infinita e sua fragrância sempre viva. Estaria em cada brilho e sua melodia seria eternamente bela, se assim desejasse.

Lígia G. V.

4 comentários:

  1. Poucos conseguem descrever a morte de forma tão sútil e poética.Seu texto realmente está muito bom, bem escrito e com nuanças incrívies. Parabéns! Estou te seguindo e retornarei aqui para ler outros textos...Continue a nos brindas com os seus escritos!

    http://yon-sopalavras.blogspot.com/

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  2. Gostei do texto *-*
    Estou te seguindo.
    Beijo :*

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